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A verdade sobre a meritocracia

     É muito comum, principalmente entre a esquerda, que ouçamos críticas à chamada ''meritocracia'', como se fosse algo inaplicável à vida real, uma vez que ela desconsideraria questões como a desigualdade social. No entanto, tal termo raramente é usado por aqueles que entendem como a economia (e o mundo) funciona. Nós, porém, empregaremos aqui tal vocábulo, mas lhe dando um sentido um tanto ou quanto diferente daquele típico. Comecemos com a seguinte pergunta: o que define os salários? Bem, aí nós temos que entender que salários nada mais são do que preços. É o quanto eu pago pela mão de obra. É um custo. E, diferentemente do que prega o senso comum, não são os patrões que decidem os preços (o que vale tanto para as mercadorias, quanto para os salários). É o mercado. Se uma empresa subitamente aumenta os preços de seus produtos, ela perde clientes, tem prejuízo e ainda dá a oportunidade de um concorrente crescer. Absolutamente nenhum empreendedor deseja isso. Em 2017, o CEO da Uber discutiu com um de seus motoristas, e ele teve de explicar que a empresa não pode simplesmente subir o valor das corridas. A mesma lógica se aplica a salários. Se os empresários são tão capazes assim em definir o quanto os outros ganham, por que então há várias profissões recebendo mais do que um salário mínimo? Se eles fossem realmente poderosos, não era para isso ocorrer (todos estariam recebendo o salário mínimo). Ademais, não era para os salários aumentarem, algo que vem acontecendo antes mesmo da existência de leis trabalhistas:

     Isso aconteceu porque a produtividade aumentou como nunca antes visto durante os séculos IXX, XX e XXI. Obviamente, a quantidade de horas trabalhadas também despencou, como bem mostra este gráfico:

     Não há alternativa. A única forma de o trabalhador passar a ter mais luxos é caso a produção aumente, algo que só é possível em uma economia de livre-mercado. Lembrando que a prática de dar folga aos funcionários nos sábados e domingos e a jornada de trabalho de 40 horas semanais surgiram com Henry Ford, não com um sindicato ou com o Estado. Até porque, o contrário é impossível. Em países pobres, é comum que crianças trabalhem, que as jornadas de trabalho sejam longas e que os salários sejam baixos. É claro, se não há bens de capital (máquinas) bons e em abundância, acumulação de técnicas e processos de produção eficientes, não há como termos uma vida boa (em comparação à nossa atual). Decretos governamentais não farão com que um trabalhador na Índia passe a ter o padrão de vida de um na Suíça. Dizer que o Brasil precisa de mais leis trabalhistas é o equivalente a afirmar que, uma vez pobres, a brilhante solução para ficarmos mais ricos é todo mundo trabalhar menos e a mão de obra ficar ainda mais cara. Faz algum sentido? Sendo assim, é perfeitamente possível (e esperado) que as reivindicações dos trabalhadores (salários maiores, mais empregos, jornada de trabalho menor, dentre outros) tenham uma causa sistêmica, isto é, macroeconômica. Agora, existe também a causa individual. Por que, por exemplo, o Neymar ganha mais que um professor? Aliás por que professores ganham tão mal? Pensemos da seguinte forma. Há quatro maneiras de se conseguir dinheiro:

Arrumando alguém para me sustentar

     Aqui, eu não preciso me preocupar. Alguém me fornece os itens necessários a minha sobrevivência (ou me dão dinheiro) e eu vivo assim. Posso pedir para alguém fazer isso por mim voluntariamente, mas em hipótese alguma obrigar os outros a fazê-lo (ninguém tem a responsabilidade de pagar pela minha saúde, pela minha educação, pela minha moradia ou pelo meu alimento; se estou insatisfeito com minha condição, tenho que reclamar exclusivamente com meus pais, que colocaram uma pessoa no mundo num ambiente pobre e miserável).

Sendo empreendedor

     Aqui, tenho meu próprio negócio. Arrisco meu patrimônio na esperança de que as pessoas comprem meus produtos ou serviços. Só receberei aquilo que gastei inicialmente no futuro, e preciso me certificar de que o projeto seja bom e de que o consumidor esteja satisfeito, pois, do contrário, perco tudo.

Trabalhando de forma independente

Aqui, não tenho chefe. Trabalho para mim mesmo e fico com 100% dos meus ganhos. Posso fazer tudo (vender picolé, fazer alguma apresentação, pegar bicos temporários, abrir um canal do YouTube, ter meu próprio consultório ou até me prostituir). Contudo, se as outras pessoas não estiverem dispostas a comprarem meus produtos ou contratarem meus serviços, terei problemas em conseguir renda.

Trabalhando para alguém

     Aqui, eu reconheço que não sou bom o bastante para gerar valor a terceiros por conta própria (e, por consequência, receita), e por isso tenho que usar os meios de produção de terceiros (que, como dito lá em cima, arriscaram o próprio patrimônio). 

     Dito isso, pensemos agora aqui: se eu trabalho para alguém, eu tenho, por óbvio, que ter um salário menor do que o quanto eu produzo. Do contrário o empresário tem prejuízo e ele está, na prática, pagando para trabalhar. Algo que ninguém (nem os funcionários) faz. E outra: quando mais valor eu produzo, maior é o meu salário. O Neymar recebe mais do que um professor simplesmente porque ele gera uma quantidade de receita absurdamente maior (com patrocínio, produtos, habilidade em campo, venda de ingressos aos jogos). E isso vale para tudo. Uma crítica que eu já vi é em relação aos bancos. Como eles têm lucros bilionários e pagam salários de R2.000? Absurdo! Calma, é que isso é o quanto recebem aquelas pessoas que desempenham as funções mais básicas, como escriturário. Os que ocupam cargos mais altos (e produzem mais valor) recebem bem mais, até porque suas funções são muito mais complexas. Em IB (Investment Banking) e PB (Private Banking), os salários geralmente começam em R$ 10.000 mensais ou mais (conferir aqui e aqui, respectivamente). Ah, e sim, esse povo trabalha muito, provavelmente mais do que qualquer pedreiro. Quanto a professores ganharem mal e serem desvalorizados (vejo muito essa afirmação), isso depende muito. Na Ibmec, a média salarial para professor é de R$ 15.000. Na FGV (outra instituição renomada), também. São profissões que geralmente requerem que o docente tenha doutorado e/ou alguma experiência na área lecionada. Agora, lamento ser rude, mas aqui vai a verdade. O camarada vai lá, faz uma faculdade de humanas (para a qual não há demanda ou só quem está no topo consegue ganhar bem), muito provavelmente porque odeia Matemática e não sabe sequer somar frações de mesmo denominador, obtém o bacharelado, entra em uma escola meia boca e ainda reclama que o baixo salário é culpa da exploração do capitalismo! Colega, por favor, o senhor não faz nada de útil. Não administra um fundo, não faz uma cirurgia, não projeta um prédio, não dá um show, não faz um transplante. Pagam-lhe para ficar dando aulas de Literatura ou Sociologia para alguns adolescentes, e só. Lembrando que, não fosse o Estado obrigando as pessoas a matricularem seus filhos em escolas (e não fosse ele regulando o que é ensinado via MEC), a demanda por professores seria drasticamente reduzida. O mesmo vale para as faculdades, caso as exigências de diploma para certos ofícios fossem extintas, o que significa que a demanda por escolas e faculdades está artificialmente inchada. Vivêssemos em um livre-mercado, provavelmente esses ''intelectuais'' e professores críticos do capitalismo e liberalismo estariam desempregado, de tão inúteis que são. Ah, só para fechar: o conceito de meritocracia só faz sentido se aplicarmos a uma mesma profissão. Se as pessoas se dedicarem a seus ofícios, é claro que ficarão em situação melhor do que se não o fizessem. 

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