''The worst evils which mankind has ever had to endure were inflicted by bad government''
A economia dos governos Lula e Dilma
Muitos (principalmente de esquerda) dizem que o Brasil viveu seu melhor momento durante a gestão de Luís Inácio Lula da Silva. Embora de fato nosso país tenha experimentado um enorme crescimento entre 2003 e 2011, é necessário que entendamos o contexto global (extremamente favorável) bem como a crise que veio logo depois, entre 2014 e 2016, que deixou heranças até os dias atuais e gerou a pior recessão da história.
Precisamos, como de praxe em qualquer análise econômica, começar olhando para os antecedentes, pois assim compreenderemos melhor porque o Brasil se encontrava em situação calamitosa. Entre 1994 e 2003, o presidente foi o Fernando Henrique Cardoso. Visto como defensor do liberalismo (visão essa criticada por mim e por estudiosos), seu primeiro mandato foi relativamente bom. Com o Plano Real, nosso país se viu livre dos problemas destrutivos da hiperinflação, e uma nova era chegaria para todos. A inflação, antes em quase 5000% ao ano, começou a cair para patamares um pouco mais ''normais'':
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É claro que isso gerou grande otimismo na população, e aumentou consideravelmente a popularidade do FHC. Não à toa, ele foi o único presidente a se reeleger no primeiro turno. No entanto, no seu segundo mandato a economia começou a desandar, particularmente porque as crises na Ásia (1997), na Rússia (1998) e no México (1998) afetaram o Brasil (e outros países emergentes). Para piorar, o governo deixaria o câmbio flutuar livremente (antes era usado o sistema de bandas), o que faria com que nosso país fosse palco de uma enorme fuga de capitais, fazendo o dólar disparar:

Tamanha desvalorização de nossa moeda gerou, por óbvio, um aumento da inflação de preços, a qual sabemos é essencial em determinar quais governos ficam e quais saem:

A meta de inflação para o ano 2002 era de 3,5%, mas o IPCA fechou em 12,53%. Com a crise, o desemprego disparou. Diante desse cenário turbulento, um homem começa a ganhar mais fama e apoio, principalmente entre as camadas mais pobres. Luís Inácio Lula da Silva, um dos fundadores do PT, já possuía experiência na política. Ele havia participado das eleições presidenciais de 1989 (contra o Collor), das de 1994 (contra o Fernando Henrique Cardoso) e das de 1998 (contra o FHC novamente). Perdeu todas. As pautas defendidas por Lula eram, no mínimo, radiais. Ele, por exemplo, falava abertamente em fazer a reforma agrária e em dar calote na dívida pública, algo que talvez o colocasse na categoria de ''extrema-esquerda''. Um candidato com essa postura subindo nas pesquisas era algo que não agradava nem um pouco o mercado, e definitivamente só piorava ainda mais a nossa crise. Como resultado, o risco-país explodiu. Ao analisar o dólar à época, percebemos claramente que o discurso de Luís Inácio afetava o câmbio, que continuaria alto durante todo o ano de 2002. Por exemplo: entre janeiro e abril desse mesmo ano, o dólar ficou cotado a menos de R$2,50, passando de R$2,40 só em algumas ocasiões. Em maio, ele passa de R$2,50; porém, fica estável. Em junho (e daí em diante) a situação começa a degringolar. Mesmo com as intervenções do Banco Central, nada adianta.
A 31 de julho, o Datafolha coloca o Ciro Gomes bem próximo do candidato Luís Inácio, o que é suficiente para fazer o dólar (que estava em R$3,42) cair para menos de R$3. Contudo, a popularidade do sujeito volta a crescer (inclusive com rumores de que ele teria mais de 50% dos votos, o suficiente para vencer no primeiro turno), e a moeda norte-americana vai junto. A partir do dia 6 de outubro (primeiro turno das eleições), o dólar sai de menos de R$3,70 e vai para mais de R$3,90.
Lula, depois de três tentativas frustradas, finalmente se torna presidente do Brasil, fato esse bastante comentado pela mídia estrangeira (conferir aqui e aqui) Quando assume, sua primeira preocupação é em como resolver o problema da inflação, a qual, como mostrado, chegou a níveis incômodos, e alcançaria a incrível marca de 17% em pouco tempo:
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O agora presidente Lula sabia que precisava fazer algo urgentemente, e eis que ele surpreende todo mundo. Para começar, seu discurso mais radical foi abandonado, e agora ele passou a adotar uma narrativa mais moderada. Dois dias depois do segundo turno, ele prometeu que pagaria a dívida pública. Luís Inácio também já havia adotado uma postura menos agressiva em relação à reforma agrária. Sua Carta ao Povo Brasileiro já demonstrava um certo comprometimento com o mercado. Não obstante, o que causou euforia nos investidores foi sua equipe, composta por pessoas que eram vistas como mais ''conservadoras''. Para o Banco Central, foi o Henrique Meirelles. Internacionalmente reconhecido, ele ainda recebia aposentadoria do conglomerado FleetBoston. Antônio Palocci foi para o Ministério da Fazenda e Joaquim Levy para o Tesouro (este é formado pela Universidade de Chicago, uma das maiores referências do liberalismo, e já trabalhou no FMI). A primeira medida foi elevar a taxa Selic para 26,50%, com o intuito de sinalizar a adoção de uma política monetária austera, já que a demanda se encontrava baixa. O resultado foi positivo, pois a inflação, antes em 17,24%, em menos de um ano caiu para 5,26%:
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Paralelo a tudo isso, os Estados Unidos começaram a Guerra no Iraque. A história nos ensina que conflitos envolvendo países são extremamente prejudiciais para a moeda de todas as partes belicosas envolvidas, pois geram um clima de instabilidade política e econômica (não se sabe quem será o vencedor, como será o desenrolar e quais medidas serão tomadas em relação a isso). Ademais, os EUA estavam passando por uma fortíssima expansão de crédito, que havia começado na década de 1990. Como resultado, o dólar perdeu força no mundo inteiro. Verifica-se tal afirmação olhando para dois gráficos. O primeiro é este:
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Esse gráfico é o índice DXY, que compara o valor do dólar em relação às principais moedas do planeta (euro, iene, franco suíço, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço). A queda dele mostra que o dólar perdeu poder de compra em relação aos supracitados. Inicia-se uma queda em janeiro de 2002 que se mantém até meados de 2012.
*Observação (1): percebe-se que, a partir de 1985, o índice despenca. O motivo de isso acontecer é o Acordo de Plaza, no qual os EUA se comprometeriam em desvalorizar o dólar em relação à libra esterlina, ao franco suíço, ao iene, ao marco alemão e ao franco francês, o que acabou levando o índice à barrocada;
*Observação (2): o dólar começa a cair no início de 2002, bem antes de a Guerra no Iraque começar. Isso acontece porque provavelmente já havia rumores de que ela seria inevitável (o governo dos EUA conseguiu autorização do Congresso para lançar o ataque), e como o mercado precifica o futuro (e raramente o presente), o dólar perde valor já a partir daí. De antemão, já era sabido que tal conflito seria extremamente custoso à economia norte-americana.
Se nós fizermos a mesma comparação, porém em relação ao ouro (que é uma commodity bastante estável), tudo fica ainda mais evidente:
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Antes, uma onça de ouro valia US$250. Uns anos depois, passou a valer cerca de US$1750. Isto é: o preço sofreu um acréscimo de 600% nesse período. Se pegarmos o gráfico completo, vemos claramente que foi uma desvalorização colossal:
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Se considerarmos em termos reais, só perde para os anos seguintes à abolição do padrão-ouro dólar (em 1971):

Tal cenário externo extremamente favorável fez com que inúmeros países experimentassem um crescimento enorme e, muitas vezes, único em suas histórias. Vejamos o PIB do Paraguai (em bilhões de dólares):

Agora o do Uruguai:

O da Venezuela:

O da Argentina:

Até mesmo países já ricos ''surfaram'' nessa onda. Observe o PIB suíço:

Agora o da França:

É claro que os africanos não ficaram de fora. Segue o PIB de Botswana:

O da África do Sul:

A Índia e a China então, nem se fala. Não pararam De crescer desde então:

Vez da China:

Por fim, nosso querido Brasil:

Esses dados mostram que foi uma época de grande prosperidade praticamente no mundo inteiro. Com o dólar fraco, as importações baratearam, e houve um boom das commodities, ajudando países em desenvolvimento como o nosso. Governos de esquerda se beneficiaram demais disso, e passaram a dominar a América Latina. Com o aumento das exportações (e de seu lucro), as reservas internacionais (dólares que os Bancos Centrais possuem, a maior parte na forma de títulos do governo dos EUA, os quais têm alta liquidez) cresceram como nunca antes. Veja a situação dos uruguaios (em milhões de dólares):

Agora a dos chilenos:

A dos venezuelanos:

A dos paraguaios (estes tiveram um crescimento de reservas maior até que o nosso, em termos proporcionais):

A dos Argentinos:

Por último, a nossa:

Conclui-se, portanto, que não faz sentido atribuir o grande crescimento econômico de 2003 a 2011 exclusivamente a Lula, dado que ele ocorreu em vários países. Além disso, lembremos que Luís Inácio foi responsável por anos e anos de uma política de expansão de crédito (o que aumentaria o consumo e, por consequência, a popularidade do governo). Tão logo a nossa situação se estabilizou, os bancos começaram a despejar dinheiro na economia:

O gráfico acima (retirado das séries temporais do Banco Central) mostra duas linhas: a azul é o quanto de dinheiro os bancos privados injetam na economia; a vermelha é o mesmo, só que com bancos públicos. Olhando bem, percebemos que com o FHC (1994–2003) os saldos estavam ''parados''. Quando Lula entra, eles passam a crescer num ritmo acelerado, especialmente de 2005 em diante. A era dos grandes lucros bancários havia começado. E a tendência era aumentar cada vez mais. Lula foi criticado, mas se manteve firme. Sua posição era clara desde o início. Com isso, o setor bancário obteve lucros exorbitantes, e se tornou um dos mais valiosos do Brasil. Em 2008, veio a crise financeira, e tudo mudou:

Olhando bem o gráfico, notamos o seguinte: com a crise de 2008, o crescimento dos empréstimos feitos pelos bancos privados ''congelou'' por alguns meses, particularmente por causa do cenário incerto quanto ao mercado de crédito global. Só isso já seria suficiente para causar uma recessão no Brasil. Se bancos estão emprestando e, subitamente, param, o consumo cai, os investimentos diminuem e o desemprego aumenta. Lula não gostou da ideia de os bancos pararem de emprestar dinheiro (conferir aqui e aqui), chegando a ameaçá-los. A solução encontrada foi utilizar os bancos públicos, totalmente controlados pelo governo (conferir aqui e aqui). A forte intervenção do Estado, aparentemente, deu certo. O Brasil não passou despercebido, tornando-se matéria da revista The Economist. Como bem disse nosso presidente, a crise não passou de uma ''marolinha''. Detalhe muito importante: os bancos públicos atuaram, principalmente, fornecendo crédito direcionado. Trata-se de empréstimos que têm juros subsidiados (abaixo daqueles que seriam cobrados por bancos privados), pois a intenção é que eles sirvam a alguma política social. Um exemplo é o Minha Casa Minha Vida. Esse programa foi criado para diminuir o déficit habitacional existente. O problema é que, se facilitamos que as pessoas peguem dinheiro para comprar imóveis, a tendência é que, como a demanda está alta, o preço desses mesmos imóveis não pare de subir. Assim sendo, eles ficam cada vez menos acessíveis, e os mais pobres são empurrados para o programa do governo. Isso cria uma dependência nefasta em relação ao Estado. Para piorar, ocorre a formação de uma bolha imobiliária, pois muitos, sabendo que a procura está alta, comprarão imóveis apenas para especular, isto é, revender por um preço maior depois. Foi exatamente isso o que aconteceu:

Novamente com as séries históricas do Banco Central, agora temos o IVG-R (Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais). Basicamente, ele mede a inflação dos preços dos imóveis residenciais. De janeiro de 2008 a janeiro de 2015, o índice aumentou de 200 para 550. Isso significa que os imóveis ficaram aproximadamente 175% mais caros. Já o salário mínimo subiu de R$415 para R$788 no mesmo período (um acréscimo de apenas 89,9%). Tal fenômeno foi bem noticiado pela mídia (conferir aqui e aqui). Outro grande protagonista foi o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Criado por Getúlio Vargas, ele tem o papel de fornecer crédito subsidiado (algumas vezes com juros até mesmo abaixo da inflação) para empresas específicas (as chamadas ''campeãs nacionais''). Na teoria isso desenvolveria setores da economia como a indústria e a infraestrutura. Fato é que com Lula e Dilma os repasses do BNDES se tornaram cada vez mais volumosos (calculado em milhões de reais):

Mesmo assim, a inflação ficou relativamente baixa (para padrões brasileiros):

Isso aconteceu porque, como dito lá no início, o dólar perdeu força no mundo inteiro (o que barateia importações e ajuda muitas empresas, cujos custos ficam menores). Nossa moeda teve a façanha de se valorizar mesmo com uma fortíssima expansão de crédito ocorrendo em território nacional. Com as pessoas melhorando de vida, consumindo e vivendo com preços mais ou menos estáveis, Lula termina seu mandato com aprovação recorde (e os bancos com os bolsos cheios). É sempre válido lembrar que, muito embora Lula seja contra privatizações, houve sim algumas em seu governo. Dois exemplos são o Banco do Estado do Maranhão (vendido em 2004) e o Banco do Estado do Ceará (vendido em 2005). Originalmente estaduais, ambos os bancos foram federalizados, ou seja, passaram para a gestão do Banco Central em 2000 e 1999, respectivamente. Também houve a concessão à iniciativa privada da administração de 2,6 mil quilômetros de rodovias federais por 25 anos. O leilão dos sete trechos foi realizado em outubro de 2007. Para mais detalhes, veja este histórico.
Dilma Vana Rousseff
Como a Constituição não permite que um presidente tenha mais de dois mandatos consecutivos, é escolhida como sucessora de Lula Dilma, membra do Partido dos Trabalhadores desde 2001 e sobrevivente da ditadura. Com a política de expansão de crédito de seu antecessor, a então presidente inicia seu mandato com as famílias em endividamento recorde. Nesse mesmo ano, o Brasil aproveita os últimos resquícios de cenário externo favorável, tornando-se a sexta maior economia do mundo, ao superar a Grã-Bretanha. Contudo, em 2012 a brutal desvalorização do dólar tem seu fim, e a moeda norte-americana começaria a ganhar força a partir de outubro desse ano, o que, obviamente, complicaria muito para o lado da recém-eleita presidente (a Guerra no Iraque já havia acabado). Isso faz com que nosso glorioso triunfo finalmente chegue ao seu fim. O PIB (e por óbvio o per capita também) simplesmente para de crescer (aliás ele cai, mas se mantém estável nos anos seguintes). Veja (calculado em trilhões de dólares):

Isso não passou despercebido. O governo até tentou contornar a situação, aprovando medidas como o PAC Equipamentos (programa de gastos públicos) e a prorrogação do IPI baixo para linha branca e móveis, mas sem sucesso. A produção industrial (medida pelo IBGE), antes em pujante crescimento, começa a cair:
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Obviamente o desemprego nesse setor começou a subir. O índice de confiança do empresário industrial desaba (já estava em queda desde o início de 2010):

*Observação: esse índice é calculado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), com base em uma pesquisa que abrange cerca de 2500 companhias nos setores de construção, mineração e manufatura. O questionamento é feito pelo telefone e envolve perguntas relacionadas a: tendência de produtos nos meses recentes, pedidos, pedidos de exportação, estoque e expectativas de produção. O índice varia de 0 a 100, significando que: quando maior, mais confiáveis os empresários industriais estão em relação ao futuro da economia; quando menor, menos eles estão. Se já está difícil para o grande empreendedor, imagine para o pequeno:

*Observação: esse índice é semelhante ao primeiro, porém aqui ele abrange as empresas que têm de 10 a 49 funcionários.
O governo fixa a meta de inflação em 4,5%, com uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais. Contudo, em quatro ocasiões diferentes o IPCA fica acima do teto da meta (6,5%):

E em nenhum caso ele ficou no centro da meta (4,5%). A própria Dilma era leniente com a inflação, pois achava que a mesma era necessária para o crescimento econômico. Assim como Lula, Dilma é uma grande defensora do consumo possibilitado pela expansão de crédito. Uma das provas disso é que a taxa Selic alcançou o menor valor histórico à época (7,25%). Simultâneo a tudo isso, o governo decide aumentar impostos de importação, com clara finalidade protecionista. Também em 2012, ele decide, por si mesmo, revogar os contratos de concessão das empresas de geração e transmissão de energia (os quais expirariam só entre 2014 e 2018), com o intuito de fazer novos acordos com tarifas menores. Com a brusca mudança, as geradoras e transmissoras não têm outra alternativa senão recorrer ao mercado de energia de curto prazo, no qual os preços negociados são muito superiores em relação aos ofertados pelas empresas que ficaram sob intervenção governamental. Resultado disso é que há uma crise no setor elétrico. As geradoras e transmissoras de energia ficam desabastecidas e endividadas. O Tesouro, então, emite títulos públicos e o dinheiro arrecadado é usado para socorrê-las. Isso, por definição, faz o endividamento do governo aumentar. Entretanto, não é suficiente. Ao mesmo tempo, um mastodôntico esquema de corrupção operava na Petrobrás, o que contribuiria para a destruição do capital da empresa. A política de congelamento de preço dos combustíveis, já em vigor, gera dívidas bilionárias. A empresa tem prejuízo durante 4 anos consecutivos. Em determinado momento, torna-se a companhia mais endividada do planeta (particularmente por causa dos investimentos na produção offshore, alguns acusados de superfaturamento), e sua dívida líquida/EBITDA alcança o patamar de 32,19.

Como se já não bastasse, ela é, por lei, obrigada a fabricar utilizando uma certa porcentagem de insumos fabricados nacionalmente. Sua dívida bruta, no final, chegaria a assustadores R$ 500 bilhões. Seu valor de mercado sofre uma fenomenal queda (conferir aqui e aqui). O uso do BNDES é intensificado (como o gráfico lá atrás mostra), porém, aqui vai ele novamente:
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Esse foi o principal fator que fez com que a dívida pública saísse de R$ 2 trilhões para mais de R$ 4 trilhões (isto é, ela mais do que dobrou em termos nominais durante a gestão da Dilma):

Em relação à porcentagem do PIB, o cenário fica ainda mais aterrorizante:
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O descontrole das contas públicas, a conivência com a inflação e o desrespeito com os contratos das geradoras e transmissoras afetam o humor dos empresários, que reduzem os investimentos (os quais estão há sete trimestres seguidos em queda). A pobreza volta a subir. Tempo depois, as três maiores agências de rating do mundo (Standard & Poor's, Fitch e Moody's) rebaixam a nota do Brasil (conferir, respectivamente, aqui, aqui e aqui). Isso obviamente desagrada aos investidores, e a nossa situação, já extremamente ruim, piora com o dólar saltando para mais de R$ 4. O risco-país (ele quantifica a probabilidade de um país dar calote) dispara para níveis pós-crise de 2008. No mesmo ano, o governo abole os repasses às empresas de energia. As tarifas encarecem cerca de 58%. O preço da gasolina nas bombas explode, particularmente porque a Petrobrás agora precisava arrumar o seu caixa. Tão desastrosa foi a política de congelamento de preços, até o Lula reconheceu que Dilma errou. Como resultado desse descalabro, o IPCA (que já estava se encontrava acima de 7% desde janeiro de 2015) bate em 10,71%:

É claro que com toda essa calamidade a rejeição do governo foi lá em cima. A nossa produção industrial contrai num nível que até então só era visto em países pós-guerra (abaixo o quanto que ela cresceu — ou decresceu — em porcentagem):

Nosso PIB colapsa, sinalizando a pior recessão da história. Milhões ficam sem emprego. O governo, desde abril de 2013, vem subindo a taxa Selic. Ela chegaria ao pico de 14,25% a.a. . Entretanto, dado que a carestia é causada majoritariamente pela desvalorização cambial e pelo controle de preços feito pelo Estado, tal tentativa é praticamente inútil. No fim, o crédito é limitado, o que faz a renda nominal cair, e, por conseguinte, o consumo também. Como resultado, as lojas vendem menos. Com preços em ascensão e salários estagnados, há uma diminuição real na renda dos trabalhadores. Sendo assim, famílias e empresas, extremamente endividadas, têm dificuldades em quitar suas dívidas. O resultado é o calote (conferir aqui, aqui e aqui). Com a crise, brasileiros têm de procurar outras alternativas para ganhar dinheiro. Nem a classe média escapa. A confiança do consumidor também cai. Para piorar, começa o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, acusada de fazer pedaladas fiscais. Como se já não bastasse, pessoas protestam contra o governo, naquilo que seria a maior manifestação de todos os tempos. Em um cenário com tanta instabilidade política, espera-se que a situação do país se deteriore ainda mais, no entanto ocorreu justamente o contrário: as variáveis econômicas (pelo menos as principais) melhoraram durante o processo de impeachment da Dilma Rousseff, prova de que o mercado (e os investidores) não gostavam muito da ex-presidente. O câmbio, por exemplo, valorizou e fechou o ano no positivo. A confiança do empresário industrial volta a aumentar:

A do pequeno empreendedor também:

Até o risco-país caiu. Alguns dizem que o cenário global, com o fim do boom das commodities, foi o que jogou o Brasil na crise. Segundo um estudo da UFRJ, é justamente o contrário: foi o governo o grande responsável por afundar a nação. Além disso, é sempre bom lembrar que nosso PIB, mesmo reduzido, ainda assim estava artificialmente inchado. Além de usar uma metodologia falha (pelo menos no tocante aos propósitos em que ele é usado), o Produto Interno Bruto aumenta caso os gastos do governo também subam. Durante a gestão Dilma, o rombo deixado foi de bilhões de reais (ou 10% do PIB), mostrando que o Estado tentou contornar a situação por meio de um programa de gastos públicos, algo que o keynesianismo defende. Outro mito é que supostamente Rousseff teria tentado passar medidas de austeridade fiscal, mas que foram barradas pelo Congresso (ou seja, ela teria sido sabotada). Tal afirmação é falsa, como demonstra este artigo. De qualquer forma, nossa ex-presidente é oficialmente afastada do cargo no dia 31 de agosto de 2016, e seu vice Michel Temer assume, iniciando uma nova era, mas agora com as mudanças da Reforma Trabalhista e o Teto de Gastos.